Na corrida de 5.000m, muitos são os fatores que interferem no desempenho dos atletas. Condições ambientais são variáveis de extrema importância e que podem limitar a realização de testes de campo em avaliações específicas com corredores, justificando que a maior parte dos estudos com esta população de atletas foi realizada em laboratório. Ergômetros como a esteira reproduzem as velocidades de corrida e permitem que os testes em laboratório se aproximem da especificidade de movimento do atleta, no entanto, existe ainda uma crescente necessidade pela busca de uma avaliação mais próxima da realidade da modalidade.
A corrida de 5.000m é uma prova do atletismo em que a aptidão aeróbia é determinante do desempenho e, por isso, durante muito tempo, o consumo máximo de oxigênio (VO2máx) foi utilizado como variável padrão na avaliação de corredores. No entanto, diversos estudos têm demonstrado que, em atletas de alto nível de desempenho esportivo em modalidades de endurance, o VO2máx praticamente não sofre alterações no decorrer da temporada de treinamento (HASKVITZ, SEIP, WELTMAN, ROGOL & WELTMAN, 1992; OLIVEIRA, 2004). BILLAT (1996) com o objetivo de identificar a capacidade discriminadora e as mudanças nos diversos indicadores fisiológicos em períodos de treinamento e competição verificou que não ocorreram modificações nas variáveis máximas de forma a caracterizar progressos no estado de treinamento dos atletas. Portanto, a necessidade de utilização de outras variáveis indicadoras da condição física e do desempenho tornou-se crescente.
Embora seja uma variável confiável para predição, em geral o VO2máx deve estar associado a outros marcadores de desempenho esportivo, como as seguintes variáveis submáximas: limiar anaeróbio (LAn), limiares de lactato (LL) e economia de corrida (EC) (SVEDAHL & MACINTOSH, 2003; DENADAI, ORTIZ & MELLO, 2004; FAUDE, KINDERMANN & MEYER, 2009; MCLAUGHLIN, HOWLEY, BASSET, THOMPSON & FITZHUGH, 2010). Neste sentido, têm-se estudado outras variáveis discriminadoras dos efeitos do treinamento aeróbio. Na corrida de 5.000m, alguns marcadores fisiológicos preditores de desempenho incluem a intensidade relativa à velocidade correspondente ao VO2máx (vVO2máx), o tempo de exaustão na vVO2máx (Tlim) e o LAn (SOUZA, VIEIRA, BALDI, GUGLIELMO, LUCAS & DENADAI, 2011).
DENADAI e GRECO (2005) identificaram que o exercício é realizado entre 85% e 95% do VO2máx entre atletas de elite nas provas de 5.000m. Para esta distância, embora os sujeitos possuam valores bem elevados de VO2máx, os níveis de correlação com este índice fisiológico são moderados (r = 0,60-0,70), sendo mais altos para a intensidade de exercício associada ao consumo máximo de oxigênio (IVO2máx) e o desempenho de 5.000m apresentando forte correlação (r = 0,80-0,90). Para essa distância, a capacidade aeróbia começa a ter um papel decisivo, apresentando elevadas correlações com o desempenho (r > 0,90). Assim, para essa prova do atletismo deve-se buscar não só a melhora da IVO2máx, mas também a melhora dos índices associados à resposta de lactato ao exercício.
A partir de alguns estudos, as velocidades correspondentes às concentrações de lactato sanguíneo tornaram-se comuns e muito usadas em avaliação, prescrição e verificação dos efeitos do treinamento aeróbio (HECK, MADER, HESS, MUCKE, MULLER & HOLLMANN, 1985; TANAKA, NAKAGAWA, HAZAMA, MATSURA, ASANO & ISEKI, 1985; JACOBS, 1986; FLEISCHMANN, 1993; OLIVEIRA, GAGLIARD & KISS, 1994; POMPEU, FLEGNER, SANTOS & GOMES, 1997; BISHOP, JENKINS, MCENIERY & CAREY, 2000; MARCELL, HAWKINS, TARPENNING, HYSLOP & WISWELL, 2003; PIRES, KISS & OLIVEIRA, 2006).
A partir de alguns estudos, as velocidades correspondentes às concentrações de lactato sanguíneo tornaram-se comuns e muito usadas em avaliação, prescrição e verificação dos efeitos do treinamento aeróbio (HECK, MADER, HESS, MUCKE, MULLER & HOLLMANN, 1985; TANAKA, NAKAGAWA, HAZAMA, MATSURA, ASANO & ISEKI, 1985; JACOBS, 1986; FLEISCHMANN, 1993; OLIVEIRA, GAGLIARD & KISS, 1994; POMPEU, FLEGNER, SANTOS & GOMES, 1997; BISHOP, JENKINS, MCENIERY & CAREY, 2000; MARCELL, HAWKINS, TARPENNING, HYSLOP & WISWELL, 2003; PIRES, KISS & OLIVEIRA, 2006).
Sabe-se que, a corrida de 5.000m possui duração superior a doze minutos, então a transferência de energia durante essa tarefa é realizada prioritariamente pelo sistema oxidativo (GASTIN, 2001). Além disso, acredita-se que, independente do nível de aptidão física dos indivíduos, a frequência cardíaca (FC) é a principal responsável pela elevação do débito cardíaco nas intensidades entre 60% e 70% do VO2máx (TANAKA, YOSHIMURA, SUMIDA, MITSUZONO, TANAKA & KINISH, 1986). Os resultados de alguns estudos apontaram para a possibilidade de utilização do monitoramento da FC para representar a demanda fisiológica em tarefas predominantemente aeróbias (ACHTEN & JEUKENDRUP, 2003).
A observação de mudanças no padrão de velocidade durante a competição levou a um interesse na estratégia de ritmo (pacing) durante as competições atléticas e tornou-se uma importante ferramenta para a avaliação do desempenho de corredores (FOSTER, SCHRAGER, SNYDER & THOMPSON, 1994; TUCKER, 2009). TUCKER, LAMBERT e NOAKES (2006) analisaram as estratégias de corrida empregadas durante a quebra dos trinta e dois recordes mundiais no período entre 1922 e 2004, incluindo a corrida de 5.000m. Neste estudo os autores especularam que a ocorrência da arrancada final ou end spurt seria devido à manutenção de uma reserva armazenada durante a parte intermediária da corrida, e a estratégia de ritmo utilizada é regulada por um complexo sistema que equilibra a demanda fisiológica para um ótimo desempenho com a necessidade de manter a homeostase durante o exercício.
A percepção subjetiva de esforço (PSE) apresentada por BORG (1982) também tem sido amplamente empregada no controle e na determinação indireta das intensidades de realização de tarefas cíclicas contínuas com predominância do metabolismo aeróbio (GARCIN, MILLE-HAMARD & BILLAT, 2004; SEILER & SJURSEN, 2004). A utilização da escala de esforço percebido (EP) está baseada na premissa de que os ajustes fisiológicos promovidos pelo estresse físico produzem sinais sensoriais aferentes que são capazes de alterar a percepção subjetiva de esforço. Evidências recentes têm sugerido que os ajustes de potência muscular e EP sofrem influência de um modelo de programação denominado teleantecipação (ALBERTUS, TUCKER, GIBSON, LAMBERT, HAMPSON & NOAKES, 2005).
De acordo com LAMBERT, GIBSON e NOAKES (2005), a teleantecipação é resultante de complexas interações entre as respostas metabólicas, cognitivas e contextuais passadas e atuais, que determinam o ritmo a ser empregado em determinada tarefa, com o objetivo de evitar precocemente o desencadeamento dos processos fisiológicos responsáveis pela fadiga. Logo é provável que o desempenho de corredores não dependa apenas do potencial metabólico, mas, sobretudo da elaboração da estratégia de corrida adotada, visando a maior eficácia (JONES & WHIPP, 2002).
Recentemente, os resultados do estudo de KONING, FOSTER, BAKKUM, KLOPPENBURG, THIEL, JOSEPH, COHEN e PORCARI (2011), demonstraram a probabilidade da mudança nas velocidades de corrida analisadas em uma simulação competitiva, que parecem estar relacionadas a um índice denominado índice de risco (Hazard Score). Este modelo integra a PSE e o percentual da distância envolvida no evento. Isso sugere que a estratégia de ritmo (pacing) adotada pelos atletas regula o esforço durante a competição, existindo a possibilidade de estudos que correlacionem distúrbios homeostáticos com a PSE, isso poderia explicar como os atletas mudam o ritmo durante o curso temporal da corrida.
ACEVEDO, KRAEMER, HALTOM e TRYNIECK (2003) revelaram em seu estudo uma tendência a existir uma forte associação entre a PSE com variáveis fisiológicas relacionadas aos limiares metabólicos, como a FC e as concentrações de lactato sanguíneo ([La]). A PSE já foi apresentada como uma opção alternativa para identificação de limiares de transição metabólica (HEZTLER, SEIP, BOUTCHER, PIERCE, SNEAD & WELTMAN, 1991; SEIP, SNEAD, PIERCE, STEIN & WELTMAN, 1991; HASKVITZ, SEIP, WELTMAN, ROGOL & WELTMAN, 1992), sendo utilizados testes em laboratório para este fim. A combinação entre FC e PSE foi demonstrada como ferramenta útil para determinar as cargas de esforço aplicadas em treinamento de corredores (THOMPSON & WEST, 1998), assim como a combinação entre as [La] e PSE (HETZLER, SEIP, BOUTCHER, PIERCE, SNEAD & WELTMAN, 1991; STEED, GAESSER & WELTMAN, 1994).
NAKAMURA, MOREIRA e AOKI (2010) revisaram a utilização da PSE e atentaram para o fato de que na situação real da prática esportiva, os atletas fazem auto seleção do ritmo empregado e estão constantemente expostos a diferentes tipos de respostas internas e externas, permanecendo uma lacuna, pela necessidade de avaliação destas relações em testes de campo. Apesar do conhecimento de que a identificação dos limiares é protocolo-dependente (HECK, MADER, HESS, MUKE, MULLER & HOLLMANN, 1985), as relações entre as [La] com variáveis como FC e PSE parecem ser consistentes, independentemente do local das avaliações.
Dessa forma, como outros métodos anteriormente estudados, espera-se que os valores de parâmetros fisiológicos (FC e LL), perceptivos (PSE) e mecânicos (velocidades de corrida) medidos em testes de desempenho para atletas, tenham relação com a análise da estratégia de ritmo (pacing), apresentando-se como método válido para avaliação de corredores.